domingo, 22 de novembro de 2009

CONHEÇA O TEXTO DE DIEGO FERNANDO QUE FAZ SUCESSO COM A GAROTADA DO PROJETO "HORA DO CONTO E DA POESIA"

Grande, inocentemente pequena

Ariele era uma menina de nove anos. Só que, diferente das outras crianças, ela era um pouco quieta, estranha, gostava de brincar muitas vezes sozinha e fazia perguntas às pessoas maiores que não eram comuns. Ariele era menina-poeta, pois sabia coisas grandes mesmo sendo criança inocentemente pequena. Quando crescesse, dizia para a mãe que gostaria de ser pintora. Queria inventar cores novas, jamais vistas, e pintar quadros para que as crianças pudessem entender, já que uma vez visitara um museu de arte moderna e achou todos os quadros que estavam lá incompreensíveis. Um dia Ariele perguntou a sua mãe:- Mãe, é possível pegar o arco-íris com as mãos?A mãe disse que não, mas que, se uma moça passasse por debaixo dele, ficaria imediatamente grávida. Disse também que no final dele, ou no comecinho, ficava um pote de ouro, e que era possível ficar rico aquele que o encontrasse.- Mas, mãe, perguntou Ariele, a riqueza maior não mora dentro da gente?Ariele queria crescer depressa e se tornar logo mulher:- Mãe, para eu crescer não é só tomar fermento? - questionou a garotinha, quando sua mãe preparava um bolo e colocava fermento na massa pro bolo poder "crescer". Também às vezes conversava coisas sérias com seu pai:- Pai, é verdade que sentir saudade é um pouco como envelhecer por dentro?Nossa! ninguém entendia aquilo, ninguém sabia explicar de onde Ariele tirava aquelas perguntas estranhas. O pai não sabia responder, e perguntava o porquê:- Ah, pai, é porque hoje eu acordei um pouco cheia de melancolia. Acho que estou ficando sênia.O que significa "melancolia"? O que queria dizer com "ficar sênia"? O pai corria no dicionário pra verificar, e descobria que "melancolia" quer dizer tristeza, abatimento, e que ficar sênio é envelhecer, se tornar maduro. Que menina, meu Deus! Onde ela aprendia essas palavras que nem mesmo ele, que era estudado e sabia um pouco de gramática, conhecia.Ariele queria entender por que o vento não era colorido, por que as pessoas se gostavam pouco, por que a casa do joão-de-barro não tinha janela. Uma vez colocou açúcar numa pequena flautinha de brinquedo para ver virava de fato uma flauta-doce de verdade. Ela conseguia, inclusive, deixar a professora boquiaberta, quando na aula de botânica perguntou:- Professora, a felicidade da abelha é saber a beleza máxima das flores?- Sim, respondeu dona Carmem, a professora dela, eu acho que sim, Ariele, mas por quê?- Porque, professora, o mel é doce e vem de dentro e é puro e amarelo como o amor de um girassol.Quando brincavam de amarelinha, Ariele e as amiguinhas, ela achava um pouco chato. Não era possível e tão simples assim chegar ao céu apenas jogando uma pedrinha e acertar as casas com os números dentro. O céu, aliás, era coisa que ela pensava assim: um tapete azul e infinito que à noite, quando não estava nublado, vivia salpicado de pequenos cristais que as pessoas grandes chamavam de estrelas. Imaginava Deus morando sobre o céu: um velho barbudo um pouco chato segurando mil raios nas mãos. Às vezes Ele escarrava e cuspia. Era quando trovejava e chovia, pensava.Quando Ariele saía para passear era uma festa. Gostava especialmente de sentir a natureza dentro dela. Num domingo foi ao jardim zoológico junto com sua mãe e com seu pai:- Olha, mãe, esticaram o pescoço daquele cavalo... que engraçado!- Não, Ariele, aquilo lá é uma girafa, a mãe precisava explicar.Vendo a arara presa debulhou-se em lágrimas: afinal de contas, tinham prendido também o colorido da ave. Imaginava ser tão lindo, tão majestosamente lindo, ver aquele punhado de penas de diversas cores voando livre, leve, solto, num caminho de céu. As pessoas grandes às vezes eram bobas: prendiam a beleza e pensavam ainda que faziam bonito. E assim estando triste, Ariele avistou o tucano: ave de nariz alongado e esbelto. Havia também os periquitinhos, verdes, fazendo algazarra, compondo aquela sinfonia estridente nas árvores. O jacaré sério demais, escorrendo nas águas, dividindo o rio ao meio. O elefante, enorme e gordo, ocupava um espaço enorme na vida. O hipopótamo também. Criatura bacana era a garça com sua leveza de bailarina. E o leão todo todo no seu terno feito de juba, assim majestosamente. Quem será que tinha pintado a onça-pintada? E será que se tivesse uma borracha ali ela poderia apagá-la? Hum, acho que não, heim...Mas foi por esses dias em que Ariele começou, espontaneamente, a ler tudo que lhe caía nas mãos: gibis, livros, revistas, bula de remédio...Puxa, que descoberta incrível! Os livros, os poemas, tudo, tudo, as palavras diziam às vezes exatamente o que ela sentia! Não era mais a única menina no mundo que se sentia estranha. Afinal, por detrás daqueles livros todos existia alguém de verdade e que compreendia o mundo esquisitamente belo de Ariele. Como era gostoso ler, conhecer lugares distantes sem sair do seu quarto, viajar num mundo de palavras e versos. E assim ela cresceu, não se tornou pintora como gostaria de ser quando era criança, mas descobriu uma paixão imensa pelos objetos e suas formas. Transformou-se numa arquiteta famosíssima e hoje em dia coloca todo seu sentimento e imaginação nas obras que cria. Mas nunca, nunca mesmo, deixou de ser Ariele, a menina-poeta. Vocês querem saber qual foi a mais recente criação dela? Pois sim, eu digo: uma escola todinha inventada para crianças, com pátios enormes pra brincar, cheia de árvores e sombras para o recreio. Salas repletas de livros para todos lerem, e, o que é mais importante, um mural todinho branco para que cada um dos alunos escreva suas próprias histórias nele. Uma parede mágica na qual você pode depositar o seu mundo estranho sem medo de ser feliz.

Ariele – A Menina Poeta

No mundo de Ariele não existem limites
Para a imaginação.
Tudo acontece
Através da mágica da infância.
Ela olha o além das coisas
E inventa sua própria beleza.
As cores nas mãos de Ariele
Se derretem e se transformam.
Paisagens se equilibram
Dentro dos seus olhos:Imagens esquecem-se de acontecer.
Ariele pinta o céu
No coração.
Do azul
Faz um mar de sonhos
E do branco nuvens
De algodão-doce.
O alaranjado-vermelho
É o sol despedindo o ocidente
E quando chove é o céu quem chora.
Ariele é arquiteta da vida:
Convida você a se transformar
Através da leitura
Convida você a não esquecer
A realidade, mas colocar dentro dela
Um pouquinho bastante de fantasia
E um tanto maior de carinho e amor.
DiegoFernando/Outubro/2009

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