quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Profeta Gentileza...




Retrato do Profeta Gentileza (intervenção urbana na zona portuária do Rio de Janeiro)José Datrino, mais conhecido como profeta Gentileza (Cafelândia, São Paulo, 11 de abril de 1917 — Mirandópolis, São Paulo, 28 de maio de 1996) foi uma personalidade urbana carioca, espécie de pregador, que tornou-se conhecido a partir de 1980 por fazer inscrições peculiares sob um viaduto no Rio de Janeiro, onde andava com uma túnica branca e longa barba.



"Gentileza gera gentileza" é a frase mais conhecida.


Sua infância
Nasceu em Cafelândia, São Paulo, no dia 11 de abril de 1917. Com mais onze irmãos, teve uma infância de muito trabalho, na qual lidava diretamente com a terra e com os animais. Para ajudar a família, puxava carroça vendendo lenha nas proximidades.
O campo ensinou a José Datrino a amansar burros para o transporte de carga. Tempos depois, como profeta Gentileza, se dizia "amansador dos burros homens da cidade que não tinham esclarecimento"[1].
Desde sua infância José Datrino era possuidor de um comportamento atípico. Por volta dos treze anos de idade, passou a ter premonições sobre sua missão na terra, na qual acreditava que um dia, depois de constituir família, filhos e bens, deixaria tudo em prol de sua missão. Este comportamento causou preocupação em seus pais, que chegaram a suspeitar que o filho sofria de algum tipo de loucura, chegando a buscar ajuda em curandeiros espirituais.



Surge o profeta Gentileza
No dia 17 de dezembro de 1961, na cidade de Niterói, houve um grande incêndio no circo "Gran Circus Norte-Americano" que foi chamado de Tragédia do Gran Circus Norte-Americano e considerado uma das maiores fatalidades em todo o mundo circense.[2] Neste incêndio morreram mais de 500 pessoas, a maioria, crianças. Na antevéspera do Natal, seis dias após o acontecimento, José acordou alegando ter ouvido "vozes astrais", segundo suas próprias palavras, que o mandavam abandonar o mundo material e se dedicar apenas ao mundo espiritual. O Profeta pegou um de seus caminhões e foi para o local do incêndio. Plantou jardim e horta sobre as cinzas do circo em Niterói, local que um dia foi palco de tantas alegrias, mas também de muita tristeza. Aquela foi sua morada por quatro anos. Lá, José Datrino incutiu nas pessoas o real sentido das palavras Agradecido e Gentileza. Foi um consolador voluntário, que confortou os familiares das vítimas da tragédia com suas palavras de bondade. Daquele dia em diante, passou a se chamar "José Agradecido", ou simplesmente "Profeta Gentileza".
Contrariando a lenda popular, Gentileza sempre reafirmava: "Sou papai de cinco filhos, três femininos e dis masculinos, não perdi ninguém no incêndio do circo!".
Após deixar o local que foi denominado "Paraíso Gentileza", o profeta Gentileza começou a sua jornada como personagem andarilho. A partir de 1970 percorreu toda a cidade. Era visto em ruas, praças, nas barcas da travessia entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, em trens e ônibus, fazendo sua pregação e levando palavras de amor, bondade e respeito pelo próximo e pela natureza a todos que cruzassem seu caminho. Aos que o chamavam de louco, ele respondia: - "Sou maluco para te amar e louco para te salvar".
Entretanto, um artigo de autoria da professora Luiza Petersen e do jornalista e escritor Marcelo Câmara, que conviveram com Datrino ("Jornal do Brasil" de 21/02/2010) e rebatido por outro artigo publicado no Jornal do Brasil [4] afirma que ele, apesar de falar em gentileza como um mantra, era "agressivo, moralista e desbocado [...] Vociferava, ofendia e ameaçava espancar transeuntes", ao ponto de às vezes ser necessário chamar a polícia para acalmá-lo. "Suas principais vítimas eram as mulheres de minissaia ou com calças apertadas, de cabelos curtos, que usavam maquiagem, salto alto e adereços [...] A maioria da população, especialmente as mulheres e crianças, fugia dele". A imagem que se criou dele após sua morte, segundo os autores, não corresponde às lembranças dos que conviveram com ele durante os anos 1960 e 1970.

Os murais
A partir de 1980, escolheu 56 pilastras do Viaduto do Caju, que vai do Cemitério do Caju até a Rodoviária Novo Rio, numa extensão de aproximadamente 1,5 km. Ele encheu as pilastras do viaduto com inscrições em verde-amarelo propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar da civilização.
Durante a Eco-92, o Profeta Gentileza colocava-se estrategicamente no lugar por onde passavam os representantes dos povos e incitava-os a viverem a gentileza e a aplicarem gentileza em toda a Terra.

Após sua morte
Em 28 de maio de 1996, aos 79 anos, faleceu na cidade de seus familiares, onde se encontra enterrado, no "Cemitério da paz".
Com o decorrer dos anos, os murais foram danificados por pichadores, sofreram vandalismo, e mais tarde cobertos com tinta de cor cinza. A eliminação das inscrições foi criticada e posteriormente com ajuda da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, foi organizado o projeto Rio com Gentileza, com o objetivo restaurar os murais das pilastras. Começaram a ser recuperadas em janeiro de 1999. Em maio de 2000, a restauração das inscrições foi concluída e o patrimônio urbano carioca foi preservado.
No final do ano 2000 foi publicado pela EdUFF (Editora da Universidade Federal Fluminense) o livro Brasil: Tempo de Gentileza, de autoria do professor Leonardo Guelman. A obra introduz o leitor no "universo" do profeta Gentileza através de sua trajetória, da estilização de seus objetos, de sua caligrafia singular e de todos os 56 painéis criados por ele, além de trazer fatos relacionados ao projeto Rio com Gentileza e descrever as etapas do processo de restauração dos escritos. O livro é ricamente ilustrado com inúmeras fotografias, principalmente do profeta e de seus penduricalhos e painéis. Além de fotos do próprio profeta Gentileza trabalhando junto a algumas pilastras, existem imagens dos escritos antes, durante e após o processo de restauração.
Em 2001, foi homenageado pela Escola de Samba GRES Acadêmicos do Grande Rio.
Em Conselheiro Lafaiete, cidade do interior de Minas Gerais, há um amplo trabalho feito pela ONG AMAR que dá continuidade ao trabalho do Profeta Gentileza. Foram desenvolvidas oficinas com jovens da cidade, onde foi possível repassar as técnicas de mosaico. Além disso, um grande muro no bairro São João recebeu uma linda aplicação de mosaico. E a praça São Pedro, no bairro Albinopólis, foi toda decorada seguindo o exemplo do Profeta Gentileza.

O profeta Gentileza nas artes
Gentileza foi homenageado na música pelo compositor Gonzaguinha, nos anos 1980; e também pela cantora Marisa Monte, nos anos 1990. As duas canções levam o nome Gentileza.
A canção de Gonzaguinha mostrava uma homenagem ao profeta, como se vê no trecho: "Feito louco / Pelas ruas / Com sua fé / Gentileza / O profeta / E as palavras / Calmamente / Semeando / O amor / À vida / Aos humanos". A canção de Marisa Monte, por sua vez, além de incentivar os valores pregados pelo profeta (no trecho "Nós que passamos apressados / Pelas ruas da cidade / Merecemos ler as letras / E as palavras de Gentileza"), retrata os danos ocorridos contra os murais, como diz o trecho: "Apagaram tudo / Pintaram tudo de cinza / Só ficou no muro / Tristeza e tinta fresca.".
No ano de 2000, na cidade de Mirandópolis (SP), onde o profeta está enterrado, foi criada a primeira ONG da cidade: Gentileza Gera Gentileza, fundada por parentes e amigos que admiravam a filosofia de vida do Profeta. A ONG, além de lembrar a pessoa de José Datrino (Profeta Gentileza), em sua criação, tinha a missão de difundir educação e cultura em toda a região. Vários eventos foram feitos, como: Saraus mensais itinerantes, Encontros de Corais, Tardes Culturais para Crianças no Bosque da cidade, Participações em Eventos Escolares e um evento anual denominado "Gentileza Gera Gentileza", com música, teatro, poesia e dança, entre outros.
Em 2009, o profeta foi interpretado em participação especial pelo ator Paulo José, na novela Caminho das Índias, exibida pela Rede Globo de Janeiro a Setembro de 2009.

Crenças
Gentileza denunciava o mundo, regido "pelo capeta capital que vende tudo e destrói tudo". Via no circo destruído uma metáfora do circomundo que também será destruído. Mas anunciava a "gentileza que é o remédio para todos os males". Deus é "Gentileza porque é Beleza, Perfeição, Bondade, Riqueza, a Natureza, nosso Pai Criador". Um refrão sempre voltava, especialmente nas 56 pilastras com inscrições na entrada da rodoviária Novo Rio no Caju: "Gentileza gera gentileza, amor". Convidava a todos a serem gentis e agradecidos. Anunciava um antídoto à brutalidade de nosso sistema de relações e, sob a linguagem popular e religiosa, um novo paradigma civilizatório urgente em toda a humanidade.
Houve um homem enviado ao Rio por Deus. Seu nome era José da Trino, chamado de Profeta Gentileza (1917-1996). Por mais de vinte anos circulava pela cidade com sua bata branca cheia de apliques e com seu estandarte, pregava nas praças e colocava-se nas barcas entre Rio e Niterói anunciando sem cansar: "Gentileza gera Gentileza". Só com Gentileza, dizia, superamos a violência que se deriva do "capeta-capital". Inscreveu seus ensinamentos ligados à gentileza em 56 pilastras do viaduto do Caju, à entrada da cidade, recuperados sob a orientação do prof. Leonardo Guelman que lhe dedicou um rigoroso trabalho acadêmico, acompanhado de vídeo e um belíssimo CD-ROM com o título Universo Gentileza: a gênese de um mito contemporâneo.

Referências
1.↑ a b c d e O profeta Gentileza, site www.riocomgentileza.com.br, baseado no livro Brasil Tempo de Gentileza de Leonardo Guelman
2.↑ http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882007000100003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
3.↑ GUELMAN, Leonardo. O missionário saltimbanco, Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: ano 6, n 63, dez. 2010, p. 28-30.
4.↑ http://jbonline.terra.com.br/pextra/2010/02/28/e280210664.asp

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Sobre a Comunidade Yuba...

A Associação Comunidade Yuba é uma comunidade agrícola localizada em Mirandópolis (interior de São Paulo, a 600 quilômetros da capital paulista) formada por cerca de sessenta nipo-brasileiros oriundos de vinte familias.
A filosofia da comunidade foi elaborada por Isamu Yuba (1906-1976), imigrante japonês, que fundou a colônia em 1935.
Na fazenda Yuba as crianças aprendem que cultivar a arte é tão importante quanto o trabalho na roça.
O líder da comunidade é Tetsuhiko Yuba, filho mais velho do fundador da comunidade, que faz questão de manter os mesmos princípios da época de seu pai.
"A mentalidade é trabalho, reza e arte", "Sozinho não dá pra fazer nada. Na comunidade dá para gente viver feliz. Convivemos muito bem com outras pessoas. Parece difícil, mas, sabe, se conseguir essas coisas você pega a grande felicidade", diz a agricultora Renata Katsue, filha caçula de Issamu Yuba. diz seu Tesuhiko.
O sonho de seu pai está presente no dia-a-dia dessas famílias.
Na comunidade o japonês é a língua oficial. Na biblioteca da comunidade, as crianças aprendem cedo os hábitos e os costumes da cultura oriental.
“Quando eu crescer as duas línguas vão ser importantes para mim porque eu nasci aqui, sou brasileira, mas minha raça é japonesa”, diz Patrícia Tsuji, de 10 anos.
O som do berrante avisa quem está no campo que a comida está pronta. Antes de servir, o silêncio para a oração, um dos pilares da filosofia Yuba. Muitos aqui são evangélicos, como era o fundador. Mas, na comunidade não há nenhum templo, nem religião oficial.
Os talheres ocidentais se misturam aos "hashis", os palitinhos que os mais antigos fazem questão de usar.
Katsue ensaia todos os dias. Um pouco mais tarde, ela nos levou ao jardim das esculturas, com obras do artista plástico Hisao Ohara, já falecido, mas que também viveu por lá. São obras de granito, expostas a céu aberto.
“A filosofia de Issamu Yuba é aberta. Quem quer vir para cá pode vir, quem quer ir embora pode ir embora. É tudo aberto. Você tem que abrir o seu coração, senão, não entra nada para você”, diz Katsue.
“Acostumamos a fazer as duas coisas: trabalhar no campo e lidar com a arte. No meu caso, tocar flauta, mas eu gosto mais da flauta”, afirma Sueli.
A vida de todos por lá é assim, com papéis no campo e também na arte. Desde cedo, as crianças aprendem a tocar instrumentos musicais na orquestra-mirim.
Além do palco, o barracão também abriga máquinas agrícolas. Trator e caminhão dividem o mesmo teto com o piano de calda, violinos e violoncelos.
Trabalho. Oração. Arte. O tripé que sustenta a relação desses agricultores é apenas um modo diferente de viver. Um jeito comunitário, no qual a aridez das dificuldades diárias convive com a manifestação artística no palco.

Economia
A comunidade vive em uma fazenda de 110 hectares onde plantam milho, horta, abacaxi, goiaba, manga e romã e ainda criam porco, galinha e gado. Para viver ali é preciso aceitar a idéia de que ninguém tem nada próprio. Tudo é de todos e quando alguém precisa de dinheiro para algo particular é preciso pedir para líder da comunidade.
“É bom porque você não pensa no dinheiro no dia-a-dia e é ruim quando você quer alguma coisa você tem que pedir para os mais velhos. Todos têm que economizar”, diz Maurício.
E economizar virou palavra de ordem, segundo dona Satiko Yuba, responsável por todas as contas da comunidade.
“Nos últimos anos nós temos passado muitas dificuldades. A minha preocupação é de quitar todas as dívidas. Pode levar muito tempo, também, mas eu vou quitar todas”, diz Satiko.

Ligações externas - Procure os vídeos abaixo no Google ou Youtube

Reportagem da Revista da Folha sobre a Comunidade Yuba (21 de outubro de 2007)

Video do antena paulista sobre a comunidade Yuba

Reportagem do Estadão sobre a Comunidade Yuba

Viva a sociedade alternativa - Por Fábio Fujita. Livro registra a vida na comunidade de japoneses Yuba, em São Paulo. Revista Trópico n.110 (13 de Junho de 2010)

Comunidade Yuba - Nosso maior centro de cultura - Visite-os - Contato 18 3708-1247